Sérgio Jimenez se tornou em julho o primeiro campeão do Jaguar I-Pace eTrophy, campeonato de carros elétricos que corre como suporte das etapas da Fórmula E e que se tornou a primeira competição internacional com etapas em vários continentes com modelos do tipo.
A competição é monomarca e utiliza o modelo I-Pace da Jaguar, que foi lançado no mercado praticamente ao mesmo tempo do campeonato. O carro preparado para corrida gera cerca de 400 cavalos de potência, faz 0-100 km/h em 4s5 e tem velocidade máxima de 200 km/h.
A categoria fornece equipe e estrutura para todos os pilotos, porém, eles podem montar times com um engenheiro vindo de fora. É o caso da Jaguar Brazil, que além de Jimenez, ainda tinha no grid Cacá Bueno, que ficou com o vice-campeonato. Juntos, eles venceram seis das dez etapas, sempre realizadas em circuitos de rua.
Em conversa exclusiva com o Projeto Motor, que você pode ver em vídeo no alto desta matéria, Jimenez explicou a satisfação de ter conquistado a temporada de estreia do novo campeonato, o que pode ser considerado um marco dentro do automobilismo de turismo com modelos elétricos.
“De uma maneira ou de outra, vou estar nos livros de história de automobilismo porque é o primeiro campeonato mundial de carros elétricos de turismo. De alguma forma, vou ter meu nome lá. Este ano faço 25 anos de carreira e coroar isso com um título internacional, colocando o meu nome na história geral do automobilismo… Estou bastante contente.”
Com um extenso currículo no automobilismo internacional, Jimenez, campeão da F-Renault Brasil de 2002, batendo nomes como Lucas di Grassi e Marcos Gomes, passou por todo o caminho das fórmulas na Europa até a GP2 (renomeada recente de F2, último passo antes da F1). Sem espaço, ele mudou o foco, passando a competir em campeonatos como a Stock Car, onde tem duas vitórias, FIA GT, Blancpain GT e Endurance, entre outras.
Com todo esse conhecimento, no entanto, Jimenez explicou que nunca tinha andando em carros elétricos antes. Nem mesmo em modelos de rua. E que a nova experiência lhe chamou a atenção de o quão sensorial é a pilotagem em carros a combustão, em que se busca sempre a reação de barulho e de sensações nos pedais, e que a mudança para os elétricos pode causar uma transformação na maneira de guiar carros de competição.
“Eu nunca tinha andando em um carro 100% elétrico. A primeira experiência foi em Silverstone, em que fizemos o teste. E ali deu para perceber como nós pilotamos pelo barulho. Quando sai do box, liga o carro. Não tem barulho, só o ‘on’ no painel. A hora que sai do box não tem marcha, pois o câmbio é CVT, acredito. Então você sai e não tem referência. A gente guia muito pelo barulho, pela marcha, reduziu, aqui freia, o giro está mais alto, menos… Não tem isso [nos elétricos]. Você tem que readaptar o estilo de pilotagem. E tem a porrada de 70 kg que anda de uma vez. Não tem dosar [no acelerador], ele anda tudo.”
A mudança não é simples e Jimenez não escondeu que sente falta principalmente do barulho dos carros. Não só na pilotagem, mas como forma de cativar o público. Por outro lado, ele analisa que o momento é de uma transição em que o automobilismo vai criar novos nichos para quem está mais preocupado com a questão do meio ambiente ou que simplesmente gosta de ver corridas, mas não liga para o ruído dos motores.
“No começo, a gente sente falta um pouco do barulho. Não só nós, o público adora o barulho. Lembro quando era pequeno, assistia à F1 para escutar o barulho, acho que nem era pelo carro. Escutava o barulho e arrepiava tudo. Mas é um conceito. É uma nova categoria. Não acho que vai acabar o [motor]a combustão em um prazo nem curto nem médio de tempo. Não sei a longo, acho que em 20 anos não vai acabar. Mas vamos sim ter um novo mercado, o do elétrico e quem goste.”
De qualquer maneira, Jimenez não acredita no fim de competições com motor a combustão a médio prazo, já que ainda vê um interesse de fãs tradicionais e espaço para evolução da tecnologia com propulsores híbridos de variados tipos.
“No automobilismo, não vejo acabar o [motor]a combustão, pois é muito legal e tem muita coisa a ser desenvolvida. Acho que vai passar por uma reformulação de ter um híbrido forte, mas sem deixar de existir. E o elétrico que cresce a cada dia mais. Então, vejo dois mercados para o automobilismo. O elétrico que vai ter cada vez mais categorias e o mercado do a combustão que já temos e que alguma coisa ou outra morre. Mas acho que vai ter espaço para todo mundo. Não vejo tudo elétrico.”
Com o título do Jaguar I-Pace eTrophy, Jimenez recebeu como um dos prêmios um teste em um carro da Fórmula E. A organização ainda não revelou data e formato, mas o piloto está na expectativa de que possa andar junto com outros pilotos do grid para tentar mostrar seu potencial e quem sabe entrar na mira de alguma das equipes do campeonato de fórmulas elétricos para os próximos dois anos.
“Espero que seja com todos, trabalhar um dia com a equipe, ver como funciona um fim de semana de Fórmula E. E, claro, acelerar o máximo que dá, tem que ser rápido no final para poder pensar em Fórmula E. Estou muito pé no chão, hoje temos um projeto sólido, tenho mais um ano de contrato, mas claro que se existir uma oportunidade de Fórmula E, vou segurar com as duas mãos.”